Fenômeno Natural Inconsciente (2009)

Apagou a luz e tentou pegar no sono novamente, porém não pregavam-se os olhos. Começou a imaginar e pensar de maneira agonizante. Seus pensamentos imperavam de forma ensurdecedora a ponto de não conseguir ouvir o mundo exterior. Gradativamente, o barulho de seus pensamentos se intensificavam. Pressionou o travesseiro contra as orelhas, como se fosse abafar o som. 
A música que se infiltrava em seus pensamentos acompanhava o ritmo de seus relógios e aparelhos em 'stand by'. Tirou da tomada todos os aparelhos. O breu consumia seus olhos a ponto de criar suas próprias cores que ondulavam. Sentia-se dopado.
Sentia-se num submarino. Os sons de sua cabeça eram parecidos com o bufar de baleias. Lembrou-se das músicas intermináveis do 'Sigur Rós', e isso o fez afundar na cama, como um morto.
Os pensamentos começaram a dominá-lo por completo, e gritavam desesperadamente mágoas profundas. Mágoas tão enterradas que teve que fazer força para se lembrar. O barulho das raspadeiras retornaram, mas dessa vez parecia sons de fim de mundo.
Passou a sentir calafrios de medo. Suava e chorava.
Os lençóis passaram a amarrar Gérion, aprisionando-o. Estava imóvel, preso dos pés às mãos, como num calabouço. 
A luz do dia parecia cegar seus olhos cada vez mais, até que não visse nada além do branco.
Finalmente, encontrou-se revivendo momentos do passado, durante uma fração de segundo, pois foi interrompido por vozes:
       - Um vizinho o trouxe aqui depois de ouví-lo gritar em plena madrugada, além de estar numa escada raspando o teto com chaves. Algum tipo de desabafo inconsciente.
         - Como o vizinho teve autorização para interná-lo?
         - Perdeu a família há menos de cinco dias. Estavam morando em Bangladesh.
         - Foram tomados pelo...?
         - Sim, pelo tsunami. Cuidado, ele está acordando.
         Havia uma janela gradeada muito acima. Ouvia-se o barulho do mar por ela. Gérion podia escutar os gritos de sua filha.



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